Jason Moran
Modernistic
CD Blue Note 2002
O que Jason Moran tem de extraordinário começa por ser a própria forma como aborda o piano, como se a sua herança lhe pertencesse por inteiro.
As primeiras notas de “Modernistic” dão o mote, ao recriar o piano stride de James P. Johnson. O segundo tema, “Body and Soul”, popularizado por Billie Holiday, é apenas o reverso da mesma medalha. Na eloquência de ambas as interpretações encontra-se uma afirmação de modernidade subtil. Mas já “Planet Rock”, um tema rap dos anos 80, marca a ruptura, esclarecendo de forma clara que, se o Jazz é a sua grande referência musical, o é por opção, já que a sua música pop (o equivalente ao que os clássicos de Jazz entendiam os (hoje) standards, como fonte de inspiração), são coisas tão estranhas para a maior parte dos ouvidos dos amantes do Jazz como o rap, o hip hop ou a Bjork. As referências seguintes ao free jazz e à música clássica europeia em Muhal Abrams e Robert Schumann, não são por decerto, ocasionais.
Trata-se então de saber se o produto resultante desta abrangência/ eclectismo referencial tem alguma consistência ou é, pelo contrário, apenas um embuste, um produto da indústria, que o tempo acabará por desmentir. Não creio: este é o quarto registo do pianista na primeira pessoa e já são razoáveis as suas prestações ao lado de figuras tão diversas quanto Von Freeman, Steve Coleman, Joe Lovano, Lonnie Plaxico, Jaki Byard (com quem estudou), Cassandra Wilson, Sam Rivers ou Greg Osby e inúmeros outros. Para explicar como o piano de Jason Moran não se confina a um estilo, não sendo no entanto, como sucede com inúmeros jovens prodígio, um clone imitador de diversos estilos. James P. Johnson, Richard Abrams, Robert Schumann ou os Afrika Bambaataa são apenas modelos inspiradores, a partir dos quais Jason Moran edifica a sua música.
E aqui reside, outra diferença do pianismo de Jason Moran: o seu universo de referência já não é apenas o Jazz, como o é, por exemplo, para outro extraordinário tecnicista, James Carter, mas toda a música. Aparentemente Jason Moran compreendeu o que inúmeros jovens parecem ignorar: que o Jazz sempre foi uma música em evolução, construída sobre as outras músicas, outros géneros e correntes.
Nada parece ser tabu para este Jason Moran. Será talvez prematuro elevar o jovem pianista à altura dos grandes nomes que fizeram a História do Jazz, mas penso que o caminho que ele vem traçando, e de que este “Modernistic” é exemplar, é um dos caminhos mais interessantes do Jazz contemporâneo.
Jason Moran (p, mini-piano)
(Este texto foi publicado na All Jazz 6, 2002)